Festival “Aceita” que foi um fracasso e o roubo descarado de reportagem exclusiva

 Festival “Aceita” que foi um fracasso e o roubo descarado de reportagem exclusiva

Identificação visual no site do Festival Aceita

Belém, 2 de setembro de 2024 – Trago para este site a reportagem que escrevi sobre o Festival Aceita, que todos sabemos, como falam os cariocas, “deu ruim”. Me dediquei uma semana a essa apuração, falei com os produtores do festival; acompanhei postagens no falecido X/ Twitter; falei com gabinetes de Brasília, esperei e insisti bastante pela “nota oficial” da produção; recebi telefonemas que, no fundo, pensavam em me pedir para aliviar “o dedo” sobre o quanto a produção errou nesse festival. E escrevi, pelo menos, três versões.

Uma dessas versões da reportagem foi publicada pelo Portal Olavo Dutra, como quem mantenho uma boa parceria para algumas reportagens e informo conheço o Dutra, há mais de 20 anos, desde quando trabalhamos juntos nas redações do antigo grupo ORM, hoje, Grupo O Liberal.

E me vem o portal Estado do Pará on Line, de Diógenes Brandão, e “chupa” os dados, frases e outros mais da reportagem e, claro, não menciona onde ela foi publicada, com exclusividade. É desse jeito que vive o jornalismo no Pará atualmente: uns tentando fazer jornalismo sério e outros se vangloriando de ter milhares de acessos, ser o “terceiro mais lido do Pará”, mas que não dizem de onde roubam as reportagens. “Mas assim, papai!”

Veja a matéria “chupada”: https://estadodoparaonline.com/com-quase-r-3-milhoes-liberados-pela-lei-rouanet-festival-aceita-decepciona-publico-e-investidores/

Matéria no site Estado do Pará on Line publicada no domingo, 1, apenas algumas poucas horas depois da publicação no Portal Olavo Dutra

R E P O R T A G E M

Reportagem escrita desde a terça-feira, 27, concluída na sexta-feira, 30, e publicada no Portal Olavo Dutra, no domingo, 1:

Belém, 27 de agosto de 2024 – Depois que Belém foi anunciada como sede da COP 30, no ano que vem, a capital paraense é a nova queridinha de todo e qualquer tipo de evento: dos sérios e comprometidos em, realmente, pensar a Amazônia no mundo, aos – muitos – que se aproveitam do evento para inventar ações mirabolantes e, claro, também ser regiamente recompensados.

A questão não é haver os eventos, que são importantes, o problema surge quando se utiliza dinheiro público e, para usar o termo do momento, “não entrega nada”. Este seria o caso do Festival Aceita, realizado em Belém, de 23 a 25 de agosto, que foi um retumbante fracasso: de público e de realização, e tinha patrocínio dos Ministérios da Cultura, do Turismo e do Nubank.

Mais grave ainda: diante de tantos problemas, de dezenas de reclamações pelas redes sociais, de notas de desligamento, a produção do Aceita levou uma semana para “dar explicações”.

A Lei Rouanet liberou quase R$ 3 milhões para o festival Aceita – o nome que aparece no Diário da União é de uma ex-sócia da produtora do evento, Lany Cavallero -, e ainda teve dinheiro dos Correios, de mais de R$ 190 mil, em patrocínio não incentivado, e do Sebrae. Além de R$ 250 mil do Ministério do Turismo.

Repasse do Ministério da Cultura – MinC
Repasse ao Aceita dos Correios

Furacão – O Festival Aceita surgiu da noite pro dia e veio como um furacão. Até maio passado, não existia para o público, mas eis que chega em Belém o faraônico e mesopotâmico Milton Cunha, curador e embaixador do Festival, paraense estabelecido há anos no Rio de Janeiro, e comentarista de carnaval da TV Globo. A Cunha coube escolher os artistas.

A proposta do festival incluía shows – em dois palcos montados na imensa área do Marine Clube, no coração do Guamá – de artistas paraenses, nacionais e internacionais, valorizando os que se identificam como LGBTQIA+; debates; oficinas e desfiles de moda.

O site do festival informa: “Como cidade-sede da COP 30, Belém será o palco para uma convergência subversiva, um epicentro de discussões globais sobre sustentabilidade e mudanças climáticas. O Festival Aceita é uma jornada de reconexão com as raízes ancestrais e um chamado à ação pela justiça climática, rumo à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, COP 30”.

Palavras ao vento e um festival fracassado

Nomes começaram a ser anunciados. Como headliner, ou seja, a principal atração, foi confirmado o cantor, dançarino e ator americano Billy Potter, que fez assim a sua estreia no Brasil, país onde nunca havia se apresentado. A pergunta para o espectador médio foi “Quem é Billy Potter?”

Ingressos grátis no final – A produção e realização do Aceita é da produtora Criattiva & Cavallero, cujos donos são Lany Cavallero e Cássio Nogueira, este, pessoa de imenso trânsito em Brasília. O Aceita teve patrocínio do Ministério da Cultura e, por meio da Lei Rouanet, obteve o patrocínio master do Nubank; e do Ministério do Turismo, cujo titular é o paraense Celso Sabino; Correios; Sebrae, entre outros.

O ministro Celso Sabino compareceu no primeiro dia do Festival Aceita (fotos de Uchôa Silva)

Tudo tendia a ser um sucesso e não foi. O público não compareceu e no último dia, no domingo, 25, o Aceita passou a doar ingressos, que custavam R$ 140,00 por dia, com muitas doações de ingressos no site da Sympla, que constavam como “cota social”. Teve gente que conseguiu dez ingressos de uma vez só e foi aproveitar.

Falta de estrutura – Eventos podem ser fracassos, sim, mas o Aceita foi mais longe. Tudo começa com a total falta de estrutura para convidados e trabalhadores. No sábado, 24, a equipe de cobertura de fotografia e de mídias sociais pediu demissão em conjunto. Em nota, eles explicaram que não havia sequer água para beber, um lugar seguro para guardar os caros equipamentos como câmeras e notebooks, e falta de acessibilidade para um membro da equipe que é cadeirante.

Pessoas “curadas” por Milton Cunha passaram a ser desconvidadas. A produção negou credenciamento a jornalistas de Belém para privilegiar a imprensa “de fora”. Já os “de fora” foram convidados, mas ao procurar pelas passagens aéreas para vir a Belém, ninguém sabia informar. Foi o caso do publicitário paraense Kadu Alvorada, que mora em São Paulo, que foi convidado, mas não encontrou a passagem para a capital paraense.

Rejeita – Alguns artistas protestaram no palco do próprio Festival, por não terem recebido cachês do evento, como a cantora As Travestis, que seguiu com o show em consideração ao público. Marcas autorais e curadoria do stylist Dudu Bertholini, modelos e estilistas protestaram com cartazes que satirizavam o nome do festival como Rejeita, assim como incentivaram o público a rejeitar os shows e fizeram a cobrança dos cachês.

Protesto no palco, na segunda noite do Aceita
O protesto foi lindo em meio ao que seria um desfile de moda

A cantora Lorena Simpson fez diferente. Já em Belém, a cantora amazonenses cancelou a participação no Festival, junto com o cantor Rawi. Ela publicou uma postagem no X e deixou claro que a única comemoração dela no Aceita foi ter conhecido pessoas LGBTQIANP+.

O grupo de drags de Belém Themônias, famoso depois d a polêmica na Feira do Livro, na semana passada, deu o troco por ter sido limado do festival, e promoveu o Festival Rejeita em um bar da cidade, no sábado, 24, que teve mais público que o Aceita.

Produtora e produtora – Informações dão conta que Lany Cavallero, filha do cantor paraense Pedrinho Cavalero, tem “muita influência”. A Cavallero, que mudou de nome três vezes em quatro anos, surgiu em 2020 e no mesmo ano “já conseguiu muita grana de incentivos públicos culturais. O que choca é uma produtora minúscula, recém-criada, ter conseguido essa grana toda com o Ministério da Cultura e ainda ter enfiado o Nubank nessa palhaçada toda”, questiona um produtor de Belém.  

O fato é que é muito estranho uma produtora pequena, criada às véspera do evento, ter acesso a essa dinheirama toda. Estranho, para ficar só nesta palavra!

Apresentação de Lany Cavaléro, como está no site do Festival Aceita
Apresentação de Cássio Nogueira no site do Aceita

O festival tem como terceiro membro Romário Alves, diretor artístico do Aceita. Mas a explicação do acesso da Criattiva & Cavallero a tanto dinheiro pode estar ligada a Cássio Nogueira, de Brasília, que foi assessor parlamentar por anos a fio do ex-senador paraense Paulo Rocha, do PT, o que Cássio nega. Informações dão conta que Cássio, de grande trânsito em Brasília e no PT, no ano passado integrou uma das diretorias do MINC, o que também nega.

Turismo – O Ministério do Turismo, de Celso Sabino, também “entrou de gaiato no navio”. No primeiro dia, Sabino “abriu o festival”. “O ministro do Turismo, Celso Sabino, participou, na tarde deste sábado, 24, do Festival Aceita, que acontece em Belém. Na ocasião, ele apresentou as principais ações que o governo federal tem trabalhado para atender à população LGBTQIA+. O encontro, que conta com o apoio institucional do Ministério, é considerado um dos principais no país e promove um amplo debate sobre a construção de políticas públicas que proporcionem a inclusão dessa comunidade”, diz uma reportagem do site do ministério.

Segundo nota da assessoria de comunicação do Ministério: “O valor do patrocínio [ao Aceita] foi de R$ 250 mil para ativações da marca do MTur + Governo Federal, entre outros itens, além de atender à necessidade de regionalização das políticas de fomento ao turismo”.

Fracasso, fracasso – O Aceita teve shows do ex-participante do grupo mexicano Rebeldes, Christian Chávez, que fez a farra em Belém e até camisa do Clube do Remo envergou; de Billy Potter que acabou caindo, depois do show dele, ao lado de Leona Vingativa, no Festival Rejeita e se esbaldou; da paraense Jaloo, Maria Gadú, Sandra de Sá, Banda Uó, Boi Boiola, e, por fim, Leci Brandão, Gaby Amarantos e a aparelhagem Crocodilo, o Croco. Um set list de respeito e estrelado, mas que não teve a menor repercussão na imprensa e no público, em níveis local e nacional.

Billy Potter e Gaby Amarantos

O Aceita teve patrocínio master da Lei de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet e Nubank; patrocínio do Sebrae; a plataforma oficial de compras foi a Sympla, de alcance nacional e internacional; produção internacional da produtora 4H5H Média; em uma realização da Criattiva & Cavallero e do Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura, governo do PT.

Nota – Em nota, a produtora Criattiva & Cavallero fez os seguintes esclarecimentos: “Sabemos que nossa ousadia em promover os direitos da população LGBTQIAPN+ incomodou alguns, e as dificuldades logísticas e financeiras foram grandes. Alguns patrocínios esperados não se concretizaram. Infelizmente, enfrentamos uma série de desafios que impactaram a experiência de alguns participantes e colaboradores. Problemas logísticos, envio de passagens aéreas de última hora, desistência de alguns participantes e consequente mudanças na programação, reduziram o alcance de algumas das atividades planejadas, resultando em insatisfações legítimas. Pedimos desculpas sinceras aos trabalhadores, artistas, jornalistas, palestrantes e, especialmente, ao público paraense, nortista e LGBTQIAPN+ que se sentiu prejudicado em qualquer etapa do festival. Entendemos as críticas e manifestações nas redes sociais e nos solidarizamos com todos. O festival disponibilizou cotas de ingressos gratuitos, conforme estabelecido em lei, sendo a maioria retirada no dia 25 de agosto, dia como o de maior presença do público. Gostaríamos de reiterar que todos os contratos de prestação de serviços serão devidamente cumpridos.”.  

Protesto da cantora As Travesti