Um canto de ilê para Chico Buarque que chega aos 80 anos ensinando que “nada é pra já”
Belém, 19 de junho de 2024 – E nesta quarta-feira, 19, ele chegou aos 80 anos. Chico Buarque fecha oito décadas de arte e poesia e continua me encantando, exatamente, como aquela adolescente que não entendia muito bem as músicas dele, mas já o ouvia e amava demais.
Estava pensando e cheguei à conclusão de que o meu amor pelo Chico se intensificou quando eu conheci meu amigo Ari, no ensino médio, que cantava quase sempre “Pedro Pedreiro”, quer dizer, só a primeira parte. Volta e meia, lá vinha ele: “Pedro Pedreiro, penseiro, esperando o trem, manhã parece, carece de esperar também”. Só cantava isso. Só isso. Até que perguntei de quem era a música, não tão famosa assim. E ela é de Chico, do início da carreira dele.
Ardósia – Por causa do Chico, tive que descobrir o que era “ardósia”, que é a cor dos olhos dele, um “verde ardósia”. Também por conta dele, eu comecei a chamar um professor da escola de “chico Buarque”, e depois de um tempo, todo mundo o chamava de Chico, tudo por conta dos olhos verdes.
Quando era ainda estudante, meu pai comprou o primeiro disco do Chico, na verdade, uma coletânea chamada A Arte de Chico Buarque, que tinha disco e uma revista falando tudo sobre ele. Devido a isso, mergulhei nas proparoxítonas, todas sempre acentuadas, de “Construção”. E trouxe o arrepio na espinha com a introdução apoteótica de “Bye Bye Brasil”, no filme homônimo, no qual ele fala que “Tomei a costeira em Belém do Pará”
Quando comecei a trabalhar, muito do que eu ganhava era para comprar os discos dele. Primeiro, os LPs e depois, CDs. E vieram as apresentações de “A Ópera do Malandro”, no Theatro da Paz, em Belém, com a cantora Marlene no elenco. O bacana dessa peça é que me deu curiosidade de conhecer ópera, porque tem uma parte que são trechos de óperas famosas, que ele abrasileirou.
Shows em que fui – Aos sete meses, grávida do meu primeiro filho, Lucas, me abalei de ônibus para São Luiz (do Maranhão) para ver um show do Chico. Fiquei o show inteiro de pé e nem senti. Anos depois, em 2012, coloquei meu ex-marido em uma fila imensa pra ele comprar meu ingresso para um show do Chico, eu em Belém e o ex, no Rio de Janeiro. A última vez em que vi Chico, ao vivo, foi há dois anos, no Show de Verão da Mangueira, estava lá, eu e ele, ele e eu. Tímido, não, aos montes.
Tão tímido que sabendo que haveriam de procurá-lo para muitas entrevistas, por conta dos 80 anos, ele se mandou para Paris, está por lá e até participou de um protesto do MST na cidade.
Mas ele nunca é tímido quando fala do nosso timaço, o Fluminense. Tem música dele para o nosso time. Ave, Fluzão!!!
À procura dele – Ah! Chico, se soubesses quantas vezes passeei pelo Leblon na esperança de te encontrar pela orla, mas nunca dei essa sorte. E se soubesses o quanto eu já “briguei” com o Lucas, porque ele, rebelde, não nasceu no dia 19 de junho, e chegou ao mundo aos 5 minutos do dia 20. Ah! moleque, que desfeita!
“Ao lado teu” – E andei, andei te ouvindo sempre, até que um dia, num sussurro, disseste “Não se afobe, não, que nada é pra já/ o amor não tem pressa/ ele pode esperar em silêncio…”, que pra mim é “A” lição de vida, sempre.
E assim vivo. No dia dos 80tão dele, minha irmã, cedo, me perguntou se eu já tinha dado parabéns ao Chico. Estou fazendo-o agora.
Porque, Chico, de uma coisa eu tenho certeza “apenas seguirei, como encantada(o) ao lado teu…”
Feliz aniversário!!!