Ano após ano e a imprensa continua sendo agredida nas procissões do Círio de Nazaré

Infelizmente, não é nenhuma novidade que membros da Guarda de Nossa Senhora Nazaré, da Diretoria da Festa de Nazaré e até alguns integrantes da Forças Armadas agem com muita turculência com os colegas da imprensa que fazem a cobertura das procissões da Festa de Nazaré.

Este ano, mesmo sem a presença de Nossa Senhora de Nazaré nas procissões pelas ruas de Belém, o que não foi diferente foi a forma truculenta com que os que se dizem “donos da Santa” tratam a imprensa.

Terceira Esta é a terceira vez que este blog/site fala sobre as agressões, berros, empurrões, barragens e, pior, impedimentos dos jornalistas fazerem o trabalho pelo qual todos estão se esforçando em fazer que é a cobertura do Círio. A primeira foi em 2009 “Conflito anual de fotógrafos com “guardas da Santa” e a segunda em 2015, Guarda da Santa e militares agridem jornalistas durante o Círio de Nazaré

Mettran – Em 2020, as agressões continuaram como em todos os anos. O radialista Mettran Senna, da rádio Metropolitana FM, contou no perfil dele no Facebok: “Entretanto, algo que sempre foi deixado de lado e que todo jornalista já passou nessas coberturas, eu, pelo menos, já somando 13 anos cobrindo o Círio de Nazaré, digo que o que vivemos ontem [domingo, 11] foi algo de intensidade e nível de absurdo sem precedentes. A imprensa foi calada, censurada e vítima de um monopólio de transmissão determinado pela Arquidiocese de Belém, somente para a TV Nazaré e a TV Cultura, bem como a RBATV”.

Mettran prossegue “Eu, por exemplo, devidamente credenciado, não pude passar para onde o helicóptero com a Virgem de Nazaré iria pousar na chegada do Círio na Basílica Santuário de Nazaré. Fomos obrigados a ficar em uma área distante, diferente dos profissionais dessas outras TVs, que não têm culpa, por sinal, somente fazem parte de emissoras controladas pela Igreja e pelo Estado, com exceção da RBATV que, indiretamente, possui tal controle, haja vista que pertence à família do hovernador [Helder Barbalho], que por sinal, estava no local com sua esposa”.

Jimmy Night – O radialista conta também que o repórter Hailton Ferreira, o Jimmy Night, foi conduzido para sair do local onde o helicóptero chegou, pois somente as TVs Nazaré e Cultura poderiam permanecer. No vídeo que Jimmy publicou, aos 3:26 é possível ver a declaração da Guarda de Nazaré, sobre esse direcionamento da Arquidiocese de Belém em relação ao evento. “São ordens da Arquidiocese”, diz o guarda de Nazaré que impediu que Jimmy ficasse no local e o barrou. 

Filipe Bispo – O fotojornalista Filipe Bispo Vale foi outro que foi agredido e impedido de trabalhar. No caso de Filipe, fou um membro da Diretoria da Festa de Nazaré que o agrediu, o pegou pelo pescoço, arrebentou a alça da máquina fotográfica de Filipe que, por pouco, o equipamento não se espatifou no chão. 

“Eu e mais 2 ou 4 profissionais da imagem tentamos passar pela grade que estava um guarda, o único que foi deixado passar foi um cinegrafista, eu questionei o porquê de não deixarem eu passar e apenas diziam que não podia. Na primeira oportunidade da grade, eu passei e corri para registar, pois se vale pra um tem que valer pra todos, somos profissionais igualmente importantes independente do veículo para qual trabalhamos. Nesse momento, um diretor da festa correu atrás de mim, arrebentou a alça da minha câmera, que quase cai no chão, me agrediu, agarrando com força no meu pescoço e dando empurrões pra fora, ameaçou chamar a polícia, e saiu gritando comigo, até me levar pra a grade. Eu gritei com ele, xinguei, não vou negar, e questionei o desrespeito com o trabalho da imprensa”, contou Filipe nas redes sociais dele.

Continua Filipe: “Fui tratado como um bandido, como um terrorista prestes a explodir todo mundo, por um indivíduo que se achou no direito de fazer isso comigo. Eu não sei se esse “diretor da festa” absorveu o mínimo de espiritualidade que eles certamente recebem. Creio que atitudes assim não condizem com alguém que está a serviço da organização de uma festa religiosa, de alguém que está ligado a igreja”, enfatizou.

A fotojornalista Camila Lima, que, pasmem, é da Funtelpa/ portal Cultura, órgão do Governo do Pará, também foi impedia de fazer o trabalho dela. Um absurdo sem tamanho.

No ano passado, o Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor-PA) se reuniu com a assessoria de imprensa da Festa de Nazaré, a agência Eko, para tratar do assunto das agressões à imprensa durante as festas do Círio do Nazaré. Fizeram várias promessas de rever essas atitudes, mas, pelo o que vimos novamente neste ano, nada mudou. Infelizmente!