Em tempos de coronavírus, veja uma lista de filmes para curtir em casa

Por Alan Michel Nina

Nesta época de pandemia de coronavírus, com as salas de cinema fechadas, o cinéfilo – e todo mundo – tem mais é que ficar em casa, evitando ao máximo sair às ruas, nem mesmo para um cineminha. Baseado nessa recomendação, o Cineclube Paraense começa, com uma lista elaborada pelo membro do grupo, Alan Michel Nina, a publicar sugestões de filmes que podem ser assistidos pelo serviço de streaming.

O Alan fez uma lista de recomendações de filmes com temática mais voltada aos jovens.

Na Netflix:

1) “Por Lugares Incríveis” (2020, direção de Brett Haley). Filme original da Netflix baseado no livro homônimo de Jennifer Niven, um best seller da literatura juvenil, que conta a história de dois jovens apaixonados, tendo como pano de fundo os seus problemas psicológicos. No entanto, diferentemente de obras como “A Culpa é das Estrelas” ou “A Cinco Passos de Você”, nos quais o centro da trama é a uma doença terminal, temos aqui uma obra cinematográfica menos estridente, focando mais na ambientação e no intimismo. Há sequências de planos longos e silenciosos, muitas das vezes a dupla protagonista, Violet Markey (Elle Fanning) e Theodore Finch (Justice Smith), precisa falar com o olhar. Outro aperitivo do filme é a explícita referência aos textos (e vida) de Virgínia Woolf, em simbiose com as imagens apresentadas. Questões ligadas ao suicídio, bullying, dependência emocional, estigmas sociais e descoberta são os propulsores desta obra. E prepare o lenço ao final!

2) “Alex Strangelove” (2018, direção de Craig Johnson). Há muito tempo a Netflix deixou de ser apenas uma empresa de streaming para tornar-se, também, produtora. “Alex Strangelove” é sua primeira produção original de filme voltada ao público jovem LGBT. Ainda que seja um tanto esquemático em seu roteiro e na construção de seus personagens, o fato de abordar com naturalidade a questão da sexualidade é muito bem-vindo. Além disso, há algumas cenas inseridas ao longo da projeção comparando, em metáforas, o comportamento dos jovens ao comportamento de animais selvagens, numa inserção que é rara de se ver em filmes como estes, geralmente muito lineares em sua estrutura. Embora não fuja de certos clichês, pela naturalidade da abordagem e pelo carisma dos protagonistas, vale a pena assistir!

3) “O Grande Passo” (ou “Yeah Ballet”, 2020, direção de Sooni Taraporelava). Baseado em fatos reais, é outro filme original da Netflix, quebrando estereótipos de gênero, religiosos e, até mesmo, sociais. Conta a história de dois jovens indianos, de Mumbai, com um talento natural para a prática de balé, que são descobertos por um professor americano. Impressiona como o roteiro constrói equilibradamente os conflitos pelos quais os jovens passam, inserindo aí as famílias religiosas conservadoras, as dificuldades financeiras para ter, por exemplo, uma simples sapatilha, e, obviamente, o estranhamento de serem garotos a interpretar um estilo de dança mais “feminino”, ainda que acertadamente este não seja o principal centro do conflito. Deste modo, a abordagem temática soou moderna e sem apelo fácil aos clichês do gênero, com destaque ainda para a ótima interpretação dos rapazes e na construção da amizade entre eles.

4) “Dez Coisas que eu Odeio em Você” (1999, direção de Jil Junger). Um clássico não poderia faltar na lista de recomendações, e por isso está aqui, para reviver o cinema adolescente do final do “longínquo” século XX. Baseada na peça “A Megera Domada”, de William Shakespeare, conta uma história que seria repetida ao extremo: a garota rica apaixonada pelo “playboy”. Então o que faz essa obra se destacar? Primeiramente, temos em cena um dos grandes atores que o cinema já viu, Heath Ledger. O então jovem de 20 anos usa todo o seu talento para construir seu personagem longe do maniqueísmo presente nos filmes deste gênero, entregando uma atuação que reforça o polimorfismo do seu caráter. Junto com a atuação contida de Julia Stiles, temos um dos melhores casais já vistos, em termos de atuações. E claro, para coroar, temos aqui uma cena ontológica: se você nunca viu a clássica declaração de amor no campo da escola, ao som da banda tocando “Can’t Take My Eyes of You”, corra para ver!

5) “Your Name” (2016, direção de Makoto Shinkai). Abordando temas como o tempo e os sonhos, “Your name” é um filme de animação japonês tecnicamente muito bem feito, tendo sido sucesso de crítica e bilheteria no Japão. Ganhou também os prêmios de “desempenho de música”, “melhor argumento” e “popularidade” do “Japan Academy Prize” em 2017. O roteiro é costurado com maestria, numa boa dose de fantasia e ficção científica. Mesmo não sido indicado ao Oscar (apesar de todo o sucesso que o filme fez à época, e investindo pesado em marketing), entre os adoradores de animação é sempre lembrado como uma das melhores produções do gênero.

No Amazon Prime:

1) “As Golpistas” (2019, direção de Lorene Scafaria). Trabalho que rendeu a justa indicação de Jeniffer Lopez ao Globo de Ouro 2020 de Melhor Atriz Coadjuvante – ainda que ela roube a cena da protagonista -, é, de fato, uma boa surpresa. O longa é dirigido e adaptado pela feminista Lorene Scafaria, baseado em uma história real desenvolvida a partir de um artigo publicado pela New York Magazine, em 2016, escrito pela jornalista Jessica Pressler. O filme guarda similaridades com a “A Grande Aposta” (2015, direção de Adam Mckay), não apenas pelo tema em torno da crise financeira do sub-prime de 2008, mas também pelo tom quase documental em que narra os golpes realizados por ex-funcionárias de um clube de strip-tease, ainda que se utilize de um tom menos rebuscado em sua linguagem. As sequências são tecnicamente equilibradas, bem como o contraste entre a fotografia enegrecida da noite e a luz quente dos apartamentos construídos com o dinheiro provindo dos golpes, como que separando os dois mundos. O tom de blockbuster pode até incomodar alguns, mas ver o empoderamento feminino sob sua própria perspectiva, atuado de forma enérgica e poderosa – já falei da sensacional Jeniffer Lopez? -, mas sem apresentar soluções fáceis ou “acobertar” suas atitudes, é o que há de mais agradável nesta produção.

No Telecine Play:

1) “Faça a Coisa Certa” (1989, direção de Spike Lee). Mais de 30 anos depois, em tempos onde predomina a falta de diálogo e a irascibilidade entre as pessoas, especialmente entre aquelas que pensam diferente, é preciso revisitar essa grande obra de Spike Lee. O diretor dá uma aula de construção de ambientação, apresentando sem pressa seus personagens. Projeta-se um bairro tipicamente habitado por negros, lembrando bastante o Bed-Stuy da série “Todo Mundo Odeia o Cris”. Seus moradores convivem junto a outras etnias, tais como o oriental dono de uma barraca de frutas e verduras, ou os italianos administradores de uma pizzaria. E é nesta pizzaria em que se revelarão os maiores conflitos do filme, quando se nota que nela há, pendurado em uma parede, quadros de personagens norte-americanos famosos, sem nenhum negro ali retratado. Isso para não falar da relação de trabalho envolvendo o jovem negro entregador de pizza, ou mesmo, o fato dos policiais do bairro serem brancos e estarem a todo o momento com olhares desconfiados aos moradores, e mais outros tantos conflitos retratados ao longo da projeção. Evocando explicitamente Martin Luther King e Malcom X, a tensão vai se desenvolvendo como um barril de pólvora prestes a explodir. O clímax todo é realizado com imagens poderosas, cabendo-nos questionar o limite entre a não-violência e a passividade, ou o limite entre a violência e a reação, fronteiras demasiadamente desafiadoras. Não há respostas fáceis. Por isso é tão relevante revisitar a obra, quando se vive num mundo de intolerância, para enxergarmos as consequências que a falta de diálogo pode causar.